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Moullinex








Não é música de dança. É apenas música. Apesar da intensa actividade
nesse mundo, Moullinex, o alter-ego do viseense Luis Clara Gomes quer
ser, e é, muito mais do que uma mera máquina de fazer dançar. Não que
não seja bom a pôr pessoas a abanar, é só que se move igualmente bem
entre vários géneros e ambientes, sejam eles a pista, o sofá ou a rua. 

Elsewhere, o segundo disco de originais, vinca isso ainda mais. Soul e
funk do passado, com garage rock, MPB – especialmente nas percussões
e na flauta, cada vez com mais destaque aqui – e psicadelismo à mistura,
bem como sintetizadores carregados de nostalgia pelo futuro, tudo a
conviver de maneira perfeita e a deixar bem vincado o facto de a música
vir toda da mesma pessoa. Isto, claro, além da sempre presente dança e o
objectivo de dar um toque humano às máquinas. Desmarca-se, em
especial, do Disco, género ao qual o som de Moullinex tem sido associado
ao longo dos anos, seja em singles em nome próprio, DJ sets, remisturas
de gente como Sébastien Tellier, Röyksopp e Robyn, Cut Copy ou Two
Door Cinema Club. Torna-se, assim, um erro, conotá-lo só com esse
género: há muito mais sumo no meio de tudo.

O sucessor de Flora foca-se, tanto em termos das letras quanto da
música, no mundo dos sonhos. Todo o tipo de sonhos, dos que ocorrem
quando fechamos os olhos para ir dormir àqueles que orientam as nossas
vidas e metas. E o quão diferente pode ser, depois do estado de
permanente descoberta e deslumbramento da infância, crescer e não os
ver cumpridos, numa constante desilusão, mas tudo filtrado através da
lente sonhadora e soalheira do costume, ainda presente. É uma temática
tremendamente pessoal, o que leva a que, pela primeira vez, o álbum não
tenha colaborações vocais externas, com alguém que estava mais
confortável enquanto produtor, músico e DJ a assumir cada vez mais o
protagonismo como vocalista. 

Paralelamente, Luis continua a ser requisitado por todo o mundo para
actuar, em clubes suados e festivais ensolarados, seja como DJ ou com
Moullinex em formato banda, a trabalhar incessante e obsessivamente em
estúdio – em produções próprias e na música de amigos –, tendo também
mão nos vídeos e imagem do projecto. Já para não falar da formação em
ciências da computação que o tem levado a colaborar com astrónomos
internacionais. Nem da Discotexas, a editora que fundou em 2006, com o
cúmplice Xinobi, que se transformou de um colectivo de artistas com uma
residência numa das mais prestigiadas discotecas da Europa, o Lux, para
uma editora “a sério”, com base sólida de fãs global. Seja o que for que
esteja a fazer, Luis Clara Gomes tenta dar um cunho pessoal a tudo. Para
confirmar, é só ouvir Elsewhere. Ou ir procurar qualquer outro trabalho no
qual ele tenha posto as mãos. 





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